sábado, 4 de fevereiro de 2012

SOBRE DROGAS E DOPING


SOBRE DROGAS E DOPING
Por Tulio Brandão 


Dizem que o perigo mora na subjetividade da lei. Não é preciso sair do universo dos surfistas para provar a tese: um PM corrupto usa a permissão de revista em blitz desde que haja “fundada suspeita”. É fácil subverter o conceito: fundada suspeita virou prancha no rack.
Policiais mal intencionados sempre seguiram à risca uma lei tácita, consagrada por um velho delegado brasileiro, conhecido pelo preconceito contra surfistas e artistas na época da ditadura. Ele dizia que “nem todo maconheiro é surfista, mas todo surfista é maconheiro”.
Quando, por acaso, após vários tiros na água, maus policiais encontram um surfista maconheiro, agem como vencedores. "Eu já sabia", dizem. E enquadram o garotão numa lei muito mais perversa do que o efeito da droga que ele gosta de consumir.
Em caso de pessoas públicas, atletas ou não, há um terror ainda maior: o dano de imagem. O corte seco da imprensa transforma, no dia seguinte, a celebridade em vilão drogado. 
Em 2005, Neco Padaratz tornou-se o primeiro atleta da ASP punido num exame anti-doping. Caiu na malha da WADA (World Antidoping Agency) durante a etapa do WT da França, país que obriga a realização de testes em todos os eventos esportivos mundiais.
Neco havia usado esteróides durante um tratamento para um sério problema nas costas que teve na carreira. Uma ressalva: no surfe – quem está na água sabe – nem sempre a condição física extrema é determinante. Mick Lowe permaneceu muitos anos no tour para provar que o talento muitas vezes prevalece sobre o corpo.
O duro golpe foi sofrido por Neco quando ainda estava no topo da carreira competitiva. Mais que o afastamento, na época, a notícia gerou um dano de imagem para a carreira do atleta.

Neco Padaratz: O primeiro surfista da ASP a ser punido por doping  

Em 1999 o Australiano Mark Occhilupo (Foto acima), foi flagrado pela Policia do RJ fumando Maconha, mas esse não foi punido pela ASP

Na mesma época, outros dois surfistas fizeram exame de doping: foram encontradas, na urina de ambos, traços das tais drogas recreativas, que incluem álcool, maconha, cocaína e outros narcóticos. Os nomes dos envolvidos não foram oficialmente divulgados pela ASP.
Particularmente, não entendo a inclusão de álcool e maconha na lista da WADA, salvo para esportes excepcionais, como automobilismo e motociclismo. As duas substâncias não trazem qualquer benefício para o rendimento físico do atleta. Ao punir o uso do álcool e da maconha, as entidades interferem na privacidade dos atletas.
Mas, sete depois do drama de Neco, a ASP resolve, em pleno 2012, introduzir oficialmente o exame anti-doping em todas as etapas. O regulamento da  entidade inclui, na lista de substâncias dopantes conhecidas, as tais drogas recreativas indicadas pela WADA.
Diz o texto que, nas três primeiras violações no exame para essas substâncias, a pena pode variar de uma simples reprimenda a dois anos de suspensão. A punição contempla ainda, se necessário, períodos de reabilitação do atleta.
A divulgação da punição de atletas flagrados com drogas recreativas dependerá de avaliação do Comitê de Regras e Disciplinar da ASP (ARDC – Athlete Rules & Disciplinary Committe)
A ARDC determinará ainda o número de testes realizados por resultado (entre os primeiros colocados na prova), o número de testes aleatórios e – o mais importante – que surfistas terão que fazer o exame anti-doping em cada evento.
Não há termo de comparação entre PMs corruptos e membros do comitê disciplinar da ASP, mas o perigo, em qualquer circunstância, mora na subjetividade da lei. A entidade máxima do esporte terá que trabalhar na linha fina (e de difícil equilíbrio) do bom senso para evitar injustiças na aplicação de suspensões.

Esperamos que muitos aprendam com os erros dos outros
e que a punição seja realmente para todos

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