Tentiaram a Prainha em 1989 e agora a Reverva, Mas nós somos
força , nós somos a resistência!
Pense na Prainha. Uma pequena
faixa de areia encravada entre o mar e a montanha.
Agora imagine aquelas encostas
cobertas pelo verde da Mata Atlântica tomada por prédios. O cenário, por mais
distante que possa parecer hoje em dia, quase se tornou realidade. Seria a
destruição de um paraíso, apontado por boa parte dos moradores da região como
um dos locais mais belos da Zona Oeste do Rio de janeiro.
O Parque Municipal Ecológico da
Prainha, com 166 hectares, foi inaugurado no dia 15 de setembro de 2001. É no
topo da área que se localiza o Mirante do Caeté. A história do espaço, no
entanto, começou muito tempo antes. Em 1989, quando um grupo de surfistas se
mobilizou contra a construção de um condomínio no local.
Na época, o terreno, de 1,2
milhão de metros quadrados, pertencia ao empresário Drault Ernanny. Para
impedir a descaracterização de um paraíso da região, um projeto de lei, a Lei
nº 1.534/90, de autoria do então vereador Alfredo Sirkis (Partido Verde), criou
a Área de Proteção Ambiental (APA) da Prainha.
Na história da Prainha, teve
milhares de pedras que juntas, poderiam
ter iniciado a construção de um condomínio de prédios residenciais ou de uma
série de bangalôs, como chegou a ser especulado. Tudo começou em 1989, quando o
primeiro presidente da Asap, Carlos Eduardo Cardoso, o Grande, foi negociar a
venda de sua moto no escritório da construtora Santa Isabel e ao chegar lá “Ele se deparou com uma maquete de um
condomínio de prédios que estava para ser construído no lugar onde hoje é o
Parque Municipal da Prainha”, recorda José Alla. “Eram uns oito prédios, de uns
20 andares cada um, mais um shopping center. O projeto já tramitava.” De mata
nativa 1 milhão de metros quadrados repletos de flora e fauna ameaçadíssimas de
extinção , não restaria nada.
Os dois convocaram vários amigos
inclusive eu estava lá, e resolveram
protestar em uma bela passeata em frente à sede da construtora no Leblon,
documentada na época pelos jornais, com destaque pelo Globo ecologia, da TV
Globo. E, diferentemente dos protestos antiviolência do Rio, o grito dos
surfistas não morreu no meio das ondas. Pelo contrário, foi desse grupo que
surgiu, em agosto de 1992, a Asap, que, com ajuda política, transformou a
Prainha em Área de Proteção Ambiental.
A transformação da mata da Prainha viria depois, em 2001, e a mata
local se transformaria no Parque Municipal da Prainha. A fauna e a flora local
estavam num terreno particular de propriedade de Drault Ernany, que concordou
em trocar a área por terrenos em outros bairros da cidade para que o parque
fosse estabelecido ali.
Amor
à natureza
Parafraseando aquele bizarro meme
das redes sociais, daria para dizer que na Prainha o homem ama a mata, as ondas
e cada grão de areia da praia. A amizade, antes de existir entre os
frequentadores, acontece entre eles e o local. Quem frequenta cuida a ponto de
orientar gente que nunca foi vista por lá antes. Quem trabalha por lá, por sua
vez, cumpre seu dever muito além da obrigação. “O carioca não conhece a
Prainha”, diz o guarda municipal Edson Leandro do Carmo, responsável pela
segurança do parque. “Ele passa por aqui e vai até Grumari. Então, quem vem
mais aqui é turista. Outro dia mesmo vieram umas senhoras de Minas. Fui
levá-las lá em cima, nas trilhas”, diz, apontando para a montanha.
Quem não liga para ondas e
prefere o contato com a mata encontra “lá em cima” uma trilha circular e outra
que segue para o mirante do Caeté. E ainda tem a administração do parque, com
um belo deck no qual ocorrem aulas de ioga e confraternizações da Asap, cujo QG
fica ali, onde a vista do mar e da mata convida até quem nunca se aventuraria
nas ondas. Ou na mata virgem.
“O que a gente faz é por amor”,
garante o corretor de imóveis Luiz Antonio Mattos, vice-presidente da Asap.
“Lutamos muito para colocar lixeiras aqui, fizemos parcerias. Você não imagina
as loucuras que já fizemos para manter isso assim.” Bem, para um homem que
cobriu os braços com tatuagens feitas por ele mesmo (“com agulha comprada na
papelaria e tinta nanquim”, explica, candidamente), a noção de loucura interessa
bastante à reportagem. Na década de 1970, época em que Luiz se autotatuou, a
estrada da Guanabara, que leva à Prainha, mal era asfaltada. Ele e Abrantes, o
Neném, puderam ver o local por perspectivas um pouco diferentes da galera que
morava por perto – o primeiro veio da Ilha do Governador, o último, do Méier.
Aquela
turma conseguiu interromper a construção de um condomínio e de um shopping
center. Fundou uma associação e transformou a Prainha em área de proteção
ambiental
Outros nomes que ajudaram a
sedimentar o histórico da área chegavam de lugares como Jacarepaguá, mais
perto, mas ainda precisavam vir de carro. “Nos anos 70 e 80, as histórias de
amizade já começavam no fato de a gente ter que rachar gasolina, de o
combustível acabar no meio do caminho e a gente ter que se virar”, lembra Luiz.
Para quem morava por perto, no Recreio, por exemplo, a lida era mais leve:
bastava andar um pouco com a prancha debaixo do braço. Ainda assim, uma
história nova para todos. No fim dos anos 1970, o asfalto veio. A passos mais
largos que a popularização do local.
Pranchas monoquilhas, artefatos
da K&K e do pioneiro Rico de Souza, vela no lugar de parafina e rock nos
ouvidos (“Curtíamos Led Zeppelin, Nazareth, Black Sabbath, mas tinha muita
gente que ouvia mesmo era MPB”, entrega Alla, que naquele tempo morava
igualmente longe, em Laranjeiras). Quem queria pegar onda improvisava, pegava
dicas com os amigos. “Fazíamos as cordinhas para prender as pranchas com
garrotes comprados na farmácia”, lembra o presidente da Asap, que cai na água
da Prainha desde 1975. “Fui levado lá pelo meu pai, que pegava onda na época em
que estava no quartel.” Bem mais vazia nos anos 1970, a praia não tinha sequer
um estacionamento, numa época em que os picos de surf eram as praias da zona
sul, com suas gatas internacionalmente conhecidas e seus primeiros campeonatos.
“Vimos que a qualidade das ondas do Recreio era bem melhor. Era uma aventura
vir para cá. Começamos a passar o dia aqui, juntos, a fazer viagens de surf.
Nessa época, antes da Asap, já usávamos a casa do parque para nossas reuniões.
Tínhamos a chave do portão do terreno e nos tornamos guardiões.” O dono do único
trailer da área, o BARBA, chegava a guardar as chaves dos poucos carros que se aventuravam
por aquelas bandas.
Nem sempre estar à frente da Asap
foi fácil. O beneficiário final é o ecossistema. Mas a galera briga e discute.
“Não dá para fazer da maneira que todo mundo quer. Mas nossa amizade só se
fortaleceu com os problemas”, garante Neném. “A gente passava o dia juntos, mas
tinha gente aqui que eu só conhecia de apelido. Não sabia nem o nome, nunca
tinha ido na casa dele [Luiz] nem ele na minha. Hoje sou muito mais amigo dele
do que antes. Viajo para surfar e encontro amigos meus dos anos 70 na água,
fora do Brasil.”
Um clima de irmandade que passa
de geração para geração, como lembra o surfista e publicitário Marco Alho,
prestes a se desvencilhar de sua camisa social e sua calça jeans para encarar
as ondas. “Criei meus filhos aqui e sei que eles têm vários ‘pais’. Todos os
meus amigos olham por eles como se fossem deles também. Isso aqui é uma segunda
família”, afirma, cumprindo o ritual de passar parafina na prancha, ajustar as
quilhas e contemplar o mar. É na casa de Marco que ocorrem as festas de fim de
ano da Asap.
Como nas velhas histórias sobre
personagens que, soltos na mata, aprendem com o local e entram em interação com
ele, a Prainha ensinou tudo para os jovens senhores que aparecem nestas fotos e
nestas linhas. “O principal é que a gente está olhando para isto aqui hoje”,
diz Neném, apontando a mata. “E vai ver novamente daqui a alguns anos.”
Condomínio ameaça o pico
A chegada das Olímpiadas e Copa
do Mundo, além da descoberta do pré-sal, faz a especulação imobiliária chegar
ao tranquilo entorno do Parque da Prainha, Rio de Janeiro (RJ).
Sob Área de Proteção Ambiental
(APA), o parque está protegido, mas um projeto de lei prevê a construção de um
condomínio de luxo em seu entorno.
Uma petição online contra a
construção visa anexar esta área também como Área de Proteção Ambiental e
garantir sua preservação.
Protesto reúne o crowd
A Associação de Amigos da Prainha
aproveitou o sábado para protestar contra a construção de um luxuoso resort na Reserva,
Barra da Tijuca (RJ).
Organizada pela rede social, a
passeata reuniu cerca de 150 pessoas na Barra.
"Se você não foi à
manifestação, não se preocupe, terão outros. E para quem foi, estão todos de
parabens! Uma nova geraçao forte junto com pessoas fortes das antigas! Nós
somos a força! Nós somos a resistência".
Praia da Reserva na Barra da Tijuca RJ |
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