A festa do Píer
Por Tulio Brandão
O US Open em Huntington Beach Tradicional evento na Califórnia |
O US Open é um daqueles eventos que você ama ou odeia. É a celebração
da competição no formato festa, com shows, pistas de skate, gatas, movimentação
intensa de mercado e jovens se apinhando para ver um pouco de tudo, até mesmo
os melhores do mundo nas ondas medíocres de Huntington Beach.
Eu particularmente apoio o formato. Vejo um espaço confortável para a
coexistência dos dois mundos – o das ondas perfeitas em paraísos distantes e o
dos grandes festivais nos centros urbanos, onde o esporte forma opinião e pulsa
como comportamento.
Com a explosão das manobras aéreas no cenário competitivo, essas
competições em ondas curtas como a do píer americano ficaram ainda mais
saborosas. Agora, o espectador não perde o seu tempo vendo apenas um Dave Macaulay
da vida ensaboar a onda com sete manobras sem expressão. Normalmente, ganha
quem traz a surpresa, quem tira o coelho da cartola.
Brasileiros têm longa tradição naquela praia, desde os tempos de Neco e
Fabinho, que certa vez dividiram uma final de WCT ali. Hoje, a fama de melhor
do mundo em ondas sofríveis costuma ser uma crítica velada de quem quer
rebaixar o povo de Pindorama.
Mas não importa: é sempre melhor reforçar a condição de líder das ondas
pequenas e irregulares do que deixar os estrangeiros recuperarem o posto.
A chave das oitavas-de-final do evento deste ano foi uma boa mostra da
superioridade brasileira. Classificaram-se diretamente para a fase, sem rodeios
nem repescagem, Filipe Toledo, Miguel Pupo, Jessé Mendes, Gabriel Medina e
Adriano de Souza.
Na final, pode ser que nem dê Brasil. Aliás, quase nunca deu. Mas não
importa: todo mundo sabe – até o garoto californiano que confunde Buenos Aires
com Brasília – que os brasileiros dominam o mundo naquelas ondas. Aliás, o que
não falta é fã rodeando Medina e cia.
No meio de tanta festa, me chamou atenção o título de uma matéria sobre
o sexto dia de prova no site oficial do evento. O texto falava exatamente sobre
o domínio brasileiro, num dia em que cinco das oito vagas para as
oitavas-de-final conquistadas sem repescagem eram de brasileiros. Jessé, Pupo,
Medina, Toledo e Mineiro.
Nada mais óbvio, a não ser pelo fato de o título omitir apenas um dos
cinco: ele mesmo, Adriano de Souza. Não vou ficar aqui procurando pelo em ovo.
Acredito sinceramente que tenha sido apenas um lapso de quem deu o título à
matéria. É que minha lógica de jornalista diz que, se você fala de domínio,
deve citar todos os exemplos que confirmam a sua tese.
E Adriano estava lá, dentro d’água, em plena forma. No fim, foi apenas
mais uma daquelas terríveis coincidências que tornam Mineiro ainda mais
brutalmente competitivo.
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